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Podemos adiar a entrada da criança no primeiro ciclo?

Há aspetos que devem ser desenvolvidos em idade pré- escolar e que permitirão uma “transição mais suave” para o primeiro ano.

Entre estes aspetos estão, por exemplo, um crescimento harmonioso em que a criança tenha desenvolvido competências básicas, nomeadamente cuidar da sua higiene e alimentar-se de forma autónoma, correr, saltar, desenhar e picotar, que tenha capacidade de estabelecer relações emocionais, de reconhecer os seus sentimentos, que tenha uma noção de valores e cultura e, naturalmente, que saiba ouvir e falar de forma organizada, tendo noção das letras e conhecendo bem os números.

Se tiver dúvidas, fale com o vosso pediatra e educador de infância, pois não existe, por norma, qualquer desvantagem em adiar a entrada no primeiro ciclo. Os pais acham que vão perder um ano. Mas não vão perder, vão ganhar um ano.

Um ano de competências, de atenção, de brincar, de liberdade na aprendizagem. Os pais têm a ideia de que vão atrasar, de que eles vão perder os amigos da sala. As crianças habituam-se rapidamente a novos grupos de amigos, esta questão não deve ser uma preocupação.

Também há casos em que os pais, por considerarem que é necessário maior amadurecimento da criança, pedem o adiamento da matrícula no primeiro ciclo, atirando a frequência do primeiro ano para os sete anos do futuro

aluno. Nestes casos, também é necessária justificação médica e avaliação especializada, uma vez que se trata de adiar uma matrícula que, por lei, é obrigatória.

Se faltarem competências consideradas essenciais, nesses casos, com a antecedência devida, a questão deve ser colocada à educadora, deve ser feita uma avaliação psicológica, formal, sobre se o aluno beneficia de estar mais um ano na pré-escola e treinar melhor a brincar.

O mais importante é os pais não se sentirem pressionados pelo contexto e conseguirem tomar uma decisão informada e ponderada.

Ninguém espera que uma criança esteja quatro horas atenta, mas tem de estar alguns minutos, de forma a ouvir o que o professor. Também deve conseguir esperar pela sua vez. Às vezes não consegue, é normal, mas deve ter a capacidade, em determinadas circunstâncias simples, de conseguir aguardar pela sua vez.

O mais importante é que os pais não se demitam desta decisão, deixando-a ao critério da aleatoriedade das vagas, ou mesmo sucumbindo à pressão de estabelecimentos de ensino que precisem de mais alunos para completar turmas.

Há situações em que as escolas fazem mesmo pressões sobre os pais, decidem que as crianças vão entrar e os pais não têm grande voto na matéria.

Mas a verdade é que os pais podem ter “voto na matéria”, a matrícula de uma criança condicional não é obrigatória, ao contrário do que acontece para as crianças que já completaram seis anos e, portanto, antes de avançarem

com o processo, os encarregados de educação podem decidir ouvir quem mais de perto lida com as crianças, seja um educador de infância, o pediatra ou, eventualmente, um psicólogo a trabalhar na área educacional.

É importante os pais não se demitirem dessa responsabilidade porque o sistema de ensino deve ser focado nas crianças e não na sua estrutura, e tem de se adaptar às crianças e não o contrário.

Valorizar a opinião do educador de infância

O educador de infância é quem está mais habilitado para emitir uma opinião sobre se a criança deve entrar com cinco anos na escola primária e tem um “papel fundamental na relação com os pais”, devendo garantir que qualquer decisão é sempre tomada em nome do superior interesse do aluno.

E ter em conta o interesse da criança também significa, muitas vezes, ir contra a pressa dos encarregados de educação ou resistir à pressão parental.

Os pais muitas vezes não têm, as competências e o distanciamento emocional para tomar esta decisão de forma autónoma e íntegra.

Por todas estas questões se tiver dúvidas, a opinião é unânime: não há vantagens em apressar o início do percurso na escolaridade obrigatória e nunca se perde nada em adiar.

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