Blogue

O desgaste da profissão.

Este ano vamos mesmo reprovar os professores?

A escola dos dias de hoje assume papéis muito diversos. O ditado popular “a família dá a educação e a escola dá a instrução” já caiu em desuso.

Hoje, a escola e o professor tem novas responsabilidades. “Designadamente, espera-se que as escolas reforcem os seus laços de cooperação com as famílias e as comunidades, multiplicando os acordos com a pluralidade de actores sociais, instituições, redes e serviços.

A abertura da escola à sociedade, pelo contrário do que se diz, é hoje maior que nunca, podendo, até, pôr-se em causa até que ponto a escola ainda é capaz de especificar uma qualquer função social realmente distintiva das de outros subsistemas sociais.

A abertura é tão grande que, demasiadas vezes, a escola se limita a reproduzir as diferenças sociais aí presentes, vítima dos seus influxos e incapaz de lidar com eles de modo suficientemente complexo e sofisticado.

Porque está demasiado próxima dos interesses sociais, a escola não lhes tem sabido escapar a projecta- os nos seus resultados.

Por outro lado, tão imbricada está na sociedade, que a escola parece chegar sistematicamente atrasada ao que é socialmente importante, com o crescente paradoxo de muitos dos alunos ultrapassarem já a organização escolar e os professores em sofisticação e profundidade culturais.

Assim, só tornando-se agente ético, social, político e produtora de conhecimento ela mesma, distanciando-se da sociedade e reforçando a sua identidade, poderá a escola abrir-se, sem perigo de passar a ser mera reprodutora de interesses não pedagógicos e não educacionais.

A escola não pode, de modo nenhum, substituir a família. Sem uma boa educação familiar a escola falha, pois há valores que são transmitidos pela família e nenhuma instituição os pode transmitir.

As crianças são muito observadoras e imitam o proceder dos pais e o modo de encarar a vida. O congelamento da carreira docente é uma pequena parte da questão. A maior parte do desespero radica na sensação de falta de respeito que os professores sentem.

Para quem não conhece por dentro a vida escolar e para que possa ter alguma ideia de como há encarregados de educação que também contribuem para este desespero profissional.

O desplante de muitas vezes desmentirem os professores sobre situações que se passam na sala de aula, onde os encarregados de educação nunca estiveram!

No entanto, o que a nossa escola espelha são alunos desinteressados e contrariados com o seu processo de ensino-aprendizagem e veem o professor como algo de negativo.

Estes alunos manifestam, claramente, uma crise de valores.

Nestes casos, terá o ambiente familiar cimentado os valores fundamentais para se viver em sociedade? Terá a família estes valores para transmitir aos seus descendentes? Perante estas questões, o que poderá fazer a escola?

Esta instituição entra apenas como cooperante, e apenas isso, pois não tem “textura relacional e afetiva, nem textura organizacional que lhe permita atuar e bem, sobretudo de modo isolado, nestes domínios socioculturais” .

Transformar os problemas sociais em problemas escolares é um problema do nosso tempo. Estamos cientes que as famílias se deparam com bastantes dificuldades.

Aliás, o facto de transferirmos o papel da família para a escola tem prejudicado muito a educação quer em quantidade, quer em qualidade.

Atualmente, as expectativas sociais face à escola cresceram desmesuradamente e a tendência que hoje prevalece é a de esperar dela o amparo social para tudo, a almofada para todos os males e impasses e para todas as crises sociais.

As escolas deviam transformar-se em verdadeiras organizações educativas e deixar de ser meros serviços periféricos.

Devia dar-se espaço aos docentes para trabalhar e responsabilizarem-se no sentido de melhorar o ensino e a aprendizagem, inundar-se o sistema educativo de liberdade, de responsabilidade e de confiança e não criar um ambiente de instabilidade, pois este não favorece, claramente, a qualidade da educação.

A crise económica traz, inevitavelmente, momentos de dificuldade, mas representa também momentos únicos para a mudança.

A aposta na educação seria a estratégia por excelência para a promoção da coesão social e para a construção de uma cidadania solidária, inclusive em domínios de urgência europeia e mundial, como sejam o desenvolvimento sustentável ou a resposta às exigências da globalização.

Neste contexto tão adverso, ser professor é uma arte difícil, não só porque enfrentam os frutos de uma sociedade exigente e em constante mutação, mas porque vivemos num mundo de conflitos exagerados, e numa ansiedade constante.

Enquanto se continuar a afundar a dignidade e o prestígio dos professores, tanto da parte do poder político como da parte da restante sociedade, o desespero vai continuar, a ânsia pela mudança vai aumentar, a dificuldade em contratar candidatos vai crescer e a escola pública vai-se deteriorando, vai-se desfazendo aos poucos.

Partilhe este post