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Geração nem.. nem.

Estamos a educar a geração nem..nem

Uma das maiores preocupações dos últimos anos tem sido a chamada geração “Nem- Nem”, que constitui jovens entre os 15 e os 29 anos que nem estudam, nem trabalham.

A primeira pergunta que vem à cabeça de qualquer um que leia a notícia é: como é que isto é possível? Como é que é possível duzentos mil jovens não trabalharem nem estudarem?

A segunda pergunta é o que podemos fazer para mudar isso. Será possível? Fácil não será de certeza.

Em primeiro lugar é preciso tentar perceber a razão de isso acontecer. Será comodismo? Será falta de interesse? Será falta de oportunidades? Será falta de condições?

Todas elas são verdade. Vivemos num período de cultura hedonista, de facilitismo, de falta de compromisso e de pouca vontade em saber mais – em todas as áreas. Fazemos parte da geração do Instagram quando nos devíamos dedicar a causas muito maiores. E elas existem.

Em segundo, arranjar a solução para estes duzentos mil jovens. Mas é aí que entra o maior problema. Talvez haja uma maneira. Mas é preciso coragem. Estará Portugal preparado para implementar alguma medida?

Esta medida estendia-se a todos os jovens portugueses. O objetivo passaria pela prestação de um serviço durante um período (a definir) nas mais diversas áreas públicas.

Os bombeiros em Portugal têm vivido desde sempre um período muito crítico na sua atividade, o verão, conhecida como a época de incêndios. Não seria vantajoso para os bombeiros terem mais gente ao seu dispor?

A Polícia de Segurança Pública queixa-se também da falta de pessoal em muitas zonas do país – há inclusive esquadras a fechar à noite por falta de polícias. O contributo jovem não teria o poder de mudar isso? Há muitos setores (como serviços administrativos) em que a ação “civil” poderia ser muito útil.

Os hospitais em Portugal tem falta de pessoal especializado e não especializado. Porque não dar esse apoio aos hospitais com jovens? O SNS precisa disso e a população agradece.

O exército português está hoje com mais oficiais do que praças. Isto significa uma enorme deficiência na sua estrutura, essencialmente devido à falta de homens e mulheres no exército. Não seria esta medida um bom método para cativar mais jovens?

Como estes casos há muitos, em muitas áreas de trabalho e em muitas regiões do país. Esta implementação poderia travar muitas dificuldades que algumas áreas têm. Mas não só.

Uma sociedade desenvolvida e informada é uma sociedade segura e trabalhadora. A mudança de mentalidades iria contribuir também para isso. Um dos grandes exemplos disso mesmo é a Finlândia que, por sua vez, é um dos países com menor taxa de criminalidade do mundo.

Porquê? Quiçá porque todos os jovens quando do fim do secundário ingressam num serviço militar durante um período de cerca de um ano.

Posteriormente ingressam nas forças policiais da sua zona de residência. Isto resulta, claro, numa juventude com noções de justiça, solidariedade e dever cívico.

Uma sociedade desenvolvida é também uma sociedade esclarecida. Um indivíduo que queira seguir a área da saúde não estaria a tirar proveito próprio se prestasse um serviço a um hospital local com carência de recursos? Iria contribuir para algo escasso e também para depreender se esse era o caminho que queria seguir no futuro.

Uma sociedade moderna é uma sociedade culta. Quando cada vez mais se discute o papel da cultura em Portugal (ou a falta dela) não seria vantajoso ter jovens a trabalhar em seu benefício?

Alguém que queira tirar uma licenciatura em História, certamente iria beneficiar duma experiência ao trabalhar num museu. Ou era ali que iria descobrir ou negar a sua vocação.

Uma sociedade civilizada é uma sociedade solidária. Portugal é um dos países da Europa onde a taxa de abandono de idosos é das mais elevada (a sua ação não é criminalizada). Por esse motivo urge a necessidade de travar isto. Como? Com trabalho voluntário.

Alguém que durante um determinado período de tempo preste um serviço de ajuda. Em hospitais, em centros de acolhimento ou até em zonas pobres no interior do país.

Todas estes áreas, bem como muitas outras, estão com falta de recursos e de capital humano. Assim, esta medida não só ajudaria a combater muitas necessidades da sociedade, como iria criar oportunidades a alguns jovens com dificuldades.

De igual modo, iria fomentar um culto de dever cívico – que falta a muita gente, infelizmente. Certamente haverá áreas com mais necessidades que outras. Mas uma coisa é certa: Não podemos continuar é a ter duzentos mil jovens sem trabalhar e sem estudar.

É urgente combater o facilitismo com que se diz “não”, da mesma maneira que se tem de travar a falta de ocupação que atinge duzentos mil jovens.

A ideia do “tanto faz”, “alguém resolve” ou do “não tenho nada a ver com isso” tem que acabar. Tem que se arranjar soluções (já) para este problema. Se esta não for a alternativa pretendida, que seja outra. Mas que seja mesmo.

Não basta dizer que somos a geração mais bem preparada de sempre – é preciso sê-la.

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