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Como sobreviver ao grupo de pais no WhatsApp

Todos os anos, surgem grupos de WhatsApp que tendem a ser uma forma de comunicação entre os pais e os grupos da escola.

Com que propósito surgem?

Surgem, acima de tudo, para evitar um buraco na comunicação entre eles e a escola. No entanto, estes grupos perdem-se em significados e problemáticas que tantas vezes afetam o funcionamento das salas ou das próprias escolas.

O WhatsApp transformou-se numa espécie de reunião de pais 24 horas por dia, que os aproximou da escola de uma forma nunca vista.

A maior participação das famílias na vida escolar é positiva, mas também está a gerar mal-estar e conflitos. Que o digam os professores, que nunca foram tão confrontados por pais ansiosos e convictos de que eles é que sabem ensinar.

A questão que se coloca é, estes grupos são de facto uma boa ajuda ou um obstáculo? Habituamo-nos ao imediato, ao ter as respostas no momento, a expor situações que surgem e a recolher o maior número de opiniões que valorizam e/ou validam comportamentos.

No entanto, estes grupos tornam-se, tantas vezes formas de criar quezílias com quem está diariamente com os alunos em sala, tornam-se em guerras familiares sem se entender bem porque surgem.

O que se pretende com os grupos que funcionam como obstáculo?

Nada! É preferível não existirem. Há, também, os grupos que se tornam, realmente, grupos que promovem a proximidade entre elementos, entre a escola, em que o propósito é claro: o bem-estar de todos.

As salas acabam por “sofrer” situações que surgem além escola, entre pais e que se transportam, num ápice, para discussões de grande grupo, esquecendo a exposição familiar e, como tal, a linha ténue do direito ao sigilo familiar.

Esquecemos que o ponto central são as crianças, as principais afetadas no meio destas confusões adultas. Ao se criarem estes grupos há propósitos que devem ser bem definidos, situações individuais ocorridas em escola, devem ser tratadas com quem de direito, professores e educadores.

Situações ocorridas além escola e que envolvem os pais, devem ser tratadas de um modo cuidado e fora desses espaços. Estes grupos não devem ser um lavar de roupa suja e de ofensas, como a tantas vezes se assiste.

Estes espaços digitais são promotores, promotores de comunicação, de relação, de envolvimento, de proximidade familiar. São momentos que devem apoiar a escola, na organização, na proatividade, no dinamismo e no modo como ambos os contextos podem se cruzar.

A boa estrutura dos grupos valorizará a relação estabelecida com a escola, devendo e tendo também a escola um papel fundamental, a ligação e envolvimento de todos.

A comunicação torna-se o elemento chave

Que leva à discórdia e ao desentendimento entre pares (escola/famílias/crianças). Não é o que precisamos. Diariamente, existem profissionais a lutar pelo bem-estar dos vossos filhos, como tal, o empenho em fazer o melhor e em se tornar melhor é uma constante.

As desavenças que surgem de mal-entendidos, de palavras mal interpretadas, são o suficiente para denegrir, para atingir e afetar a relação que se vive dentro da escola e fora dela. As palavras que transmitimos através de mensagens escritas devem ser ponderadas e devem ter em conta o outro, a sua interpretação, a leitura aos olhos do outro.

Estamos, neste momento, habituados a ser juízes atrás de um teclado, atrás de um telemóvel, que ditam opiniões pela leitura de uma imagem fora de contexto, através de uma frase ouvida fora de contexto, através de fortes palavras escritas e que assumem sentidos diversos através das vivências de cada um. De onde viemos, de onde vieram os outros.

Que educação vivemos, que educação viveram. Neste sentido, ressalvam-se as vivências de cada um. É preciso repensar a importância de cada um, o sentir de cada elemento e a potencialidade que tem para oferecer ao grupo. É preciso olhar para estes grupos como grupos de partilha que visam beneficiar as crianças, que visam melhorar a relação escola família.

Os tempos que decorrem já são demasiado caricatos para existirem mais cenários de desordem, de zanga, de futilidades que desvalorizam a educação.

Não se limitem a apontar o dedo para situações que surgem fora de contexto. Entendam o porquê dos acontecimentos junto de quem devem, não se limitem a procurar informações sem fundamento. Teremos de ser seres que coerentes e sensíveis à verdade e compreensão.

Os meios tecnológicos estão ao nosso serviço

Enquanto educadores, professores, assistentes operacionais, pais, comunidade educativa, só temos de os potenciar, de os tornar verdadeiras ferramentas para construir uma educação de respeito, que valoriza a individualidade, que honra o ambiente e o contexto familiar.

Somos todos educação, somos todos necessários neste processo. Somos uma ponte, se um dos alicerces fragilizar, o processo fica comprometido, e os principais afetados já sabemos quem são.

Centremo-nos no importante, estes grupos criados nas redes sociais são ferramentas potenciadoras, que devem ser o espelho de uma boa relação entre os contextos, entre as famílias, direcionado para o mais importante, viver o presente de forma pensada e intencional, dando a possibilidade de que o futuro dos mais pequenos seja realmente baseado numa memória positiva de afeto, de relação, de diálogo. compreensão e de comunicação.

Não são as quezílias criadas entre famílias, não são as palavras trocadas sem a capacidade de olhar o outro e de entender o papel do outro que irão valorizar o processo de construção do SER.

Os desentendimentos, as ofensas nestes espaços digitais, e nos reais, não protegem as crianças, não protegem os adultos, as famílias e a relação escola-família. São corrosivos e, como tal, destroem-nos.

Lembrem-se, a empatia é algo urgente, não somente para incentivar ou se tornar uma propaganda. A empatia deve ser vivida. E, neste sentido, deve ser vivida por todos.

Só assim se conseguirá permitir que os mais pequenos também a vivam, quando encontram um sentido real para o que é sentido. Agora pode respirar de alívio, pelo menos até ao início do novo ano escolar.

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