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A superproteção é mesmo um super poder?

Não devemos confundir proteção com superproteção. É claro que o cuidado é vital para os nossos filhos, que quando são pequenos precisam de nós para quase tudo. Todos os animais cuidam e protegem instintivamente os seus filhos por um certo tempo.

Mas quando chega a altura de o fazerem sozinhos, começa a sua jornada pelo mundo e afastam-se dos pais.

No caso dos seres humanos, essa proteção é por mais tempo, e muitas vezes o que serviu inicialmente para cuidar e manter os filhos seguros transforma-se em algo realmente prejudicial para a sua saúde mental.

Habituados a receber esta superproteção constante, acabam por ter dificuldades em compreender que, na vida, muitas coisas estão além do nosso controle e que muitas conquistas exigem esforço e dedicação.

Devemos ter em atenção que esta proteção deve ser diminuída à medida que as crianças crescem, mas quando mantida ou aumentada, pode ser extremamente prejudicial. Assim, é importante sabermos diferenciar proteção de superproteção.

Muitos pais confundem o excesso de proteção aos filhos com a demonstração de amor, sem compreender as consequências que esse tipo de comportamento pode ter na vida dos filhos. Neste artigo, vamos partilhar algumas implicações da superproteção no desenvolvimento social e emocional dos filhos.

Atraso no desenvolvimento

Algumas atitudes, aparentemente inofensivas, prejudicam o desenvolvimento dos nossos filhos. Por exemplo, ao levar a criança à casa de banho antes mesmo de ela sinalizar essa vontade, pode fazer com que ela encontre dificuldades a identificar as suas próprias necessidades fisiológicas.

Outra questão é quando fazemos algumas tarefas, que eles já têm a capacidade de fazerem sozinhos como: comer, tomar banho, vestir-se. Quando isso acontece, estamos a impedir que treinem algumas habilidades, desfavorecendo o seu desenvolvimento, maturidade ou independência.

Quando tentamos auxiliar, antecipando o que vai acontecer, tiramos a possibilidade da criança aprender com os próprios erros.

Muitas vezes dificultamos a aprendizagem, que vem da perceção das consequências positivas e negativas das próprias ações, além de lhes diminuir a capacidade criativa. É certo que enquanto pais não queremos que os nossos filhos sofram. Porém, a facilidade nem sempre é sinónimo de felicidade.

Se não deixarmos que os miúdos enfrentem alguns desafios agora, como farão com os desafios que vão se impor no futuro? Se não conseguirem lutar pelo que querem, como vão sentir- se vitoriosos numa conquista ou corajosos e confiantes para seguir em frente, e explorar o mundo?

Dependência emocional

Quando não permitimos por exemplo que os nossos filhos ajudem nas atividades domésticas, podemos diminuir a sua auto estima, mesmo que não seja intencionalmente.

Muitas vezes as crianças até pedem para ajudar os familiares em simples tarefas e sentem-se capazes e felizes por fazer parte e colaborar.

Basta encontrar funções que se ajustem à capacidade deles, de acordo com a idade, para que desenvolva o senso de responsabilidade ao invés de uma dependência.

Em muitos casos, cercamos as crianças de proteção e com o medo de que se magoem a brincar.

Com essa atitude, acabamos por impedir que corram riscos, interferindo no desenvolvimento da capacidade de tomar decisões e de saber o que é melhor para eles.

Quando há superproteção, ao invés de procurar as próprias respostas, eles crescem a depender dos outros, à espera que os seus problemas sejam resolvidos por terceiros, sem acreditar que são capazes de resolver por si mesmos essas questões.

Muitos acabam por ter dificuldades em comunicar-se, a expressar as suas opiniões ou até a ter iniciativa.

Isolamento social

O excesso de proteção e até algumas atitudes mais controladoras podem transformar-se numa obsessão, acabando por sufocar e prejudicar o amadurecimento da criança.

Habituadas a terem sempre a proteção de um adulto, o simples ato de dormir sozinhas pode transformar- se em algo realmente assustador. Esse sentimento constante de alerta aumenta o stress e a ansiedade nos nossos filhos.

Por exemplo, quando impedimos as crianças de participar em atividades sociais, como os passeios escolares, estamos a comunicar a mensagem que o mundo é perigoso, e que a criança não está segura longe de nós e, assim, transmitimos-lhes os nossos próprios medos e isso pode gerar insegurança e dificuldades de socialização.

Dessa forma, é importante prestar atenção a este tipo de conduta com as crianças e jovens, pois na busca da individualidade e independência, muitos acabam por afastar-se da família, outros acabam refugiando-se em mundos alternativos, como os jogos ou na internet, aumentando cada vez mais a dificuldade em lidar com as frustrações.

Ao superproteger, criamos as crianças numa “bolha”, apresentando- lhes uma visão distorcida da realidade. Acabamos por evitar que lidem com as suas frustrações no agora, tirando- lhes a capacidade de desenvolver uma maturidade emocional para lidar com elas.

Além disso, ao crescerem a pensar que a função das pessoas do seu núcleo familiar é a de lhes fazerem suas vontades, acabam por culpar os outros pelos próprios problemas. Por isso, torna- se difícil que percebam os seus erros e procurem fazer algo para melhorarem.

Como em tudo na vida, tente sempre optar por um equilíbrio entre a proteção e o desenvolvimento da autonomia das crianças,
deixe que aprendam com as suas próprias experiências, para conseguirem lidar com os desafios do nosso mundo.

Pode ler também o nosso artigo sobre as Regras, a importância de dizer que não. 

 

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