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Pela 1ª vez, os filhos têm QI inferior ao dos pais

O consumo excessivo da tecnologia pode ter repercussões maiores do que aquelas que pensamos. Hoje em dia, não há uma criança que não saiba aceder à internet, abrir o Youtube e colocar os seus vídeos favoritos.

Há quem diga que são muito inteligentes, mas para Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, apresenta uma teoria diferente: este uso precoce e excessivo da tecnologia afeta o QI das crianças e dos jovens.

Michel Desmurget afirma que o QI da geração atual é mais baixo do que o da anterior com base em testes em países desenvolvidos, como a Noruega, Dinamarca, Finlândia, Holanda e França, os filhos apresentam, pela primeira vez, um QI inferior ao dos pais.

Quando se fala de ecrãs, as pessoas tendem a dizer, que depende daquilo que se faz com a tecnologia, obviamente que depende daquilo que se faz.
Se as crianças usassem os ecrãs para ler ou para consultar tutoriais sobre como resolvem equações de segundo grau, não haveria debate.

Claro que há coisas boas que se pode fazer com o digital, o uso de ecrãs o dia todo no trabalho por exemplo, é algo positivo em termos de acesso a dados. Há softwares hoje muito mais eficientes do que os métodos de trabalho que tínhamos.

Agora também há muita coisa que já revelou ser negativa e prejudicial para o desenvolvimento das crianças.

Por isso não está em questão o que é que as crianças poderiam fazer com o digital num mundo ideal, o que se pretende alertar é o que elas fazem, e o que elas fazem na realidade é usar os ecrãs para entretenimento.

A Internet tornou-os, menos profundos, mais rápidos, menos focados, mais acelerados, menos criativos, mais táteis, menos visuais, mais individualistas. Expandiu radicalmente a memória, mas fez de nós, ao mesmo tempo, reféns do presente.

A Internet pode ser comparada a um ecossistema, um cérebro coletivo, uma memória universal, uma consciência global, um mapa total da geografia e da história.

Mas uma coisa é certa: fãs ou críticos, todos a usam e ninguém sai indiferente da Internet. Todos conheçemos a Wikipedia ou o Google, e ninguém escapa à atração da comunicação e do saber globais e instantâneos.

O especialista refere ainda que não é possível determinar o que está a afetar especificamente a diminuição do QI, mas o consumo excessivo da tecnologia tem uma forte influência. “Vários estudos têm mostrado que quando o uso da televisão, telemóveis ou computadores aumenta, o QI e o desenvolvimento cognitivo diminuem”, alerta Michel Desmurget.

Como é que o uso de dispositivos tecnológicos afeta o desenvolvimento cognitivo?

– A diminuição das interações familiares, que são essenciais para o desenvolvimento emocional e da linguagem;
– A diminuição do tempo dedicado a outras atividades que trabalham o lado cognitivo como a leitura, a arte e a música;
– A diminuição das horas de sono;
– O sedentarismo, que para além de ter repercussões físicas, também afeta o cérebro.

Estes são os resultados de um consumo excessivo da tecnologia e que, desta forma, afetam o QI dos seus utilizadores.

Nas crianças mais novas, isso é ainda mais importante para aprender a linguagem e adquirir vocabulário. Numa criança de dois anos, por cada hora em frente ao ecrã, remove-se quase 50 minutos de interação verbal.

O tempo que as crianças passam em frente aos ecrãs é prejudicial, mas o que nós passamos em frente aos ecrãs também é.

Quando se está a ver Netflix, a jogar ou a fazer o que quer que seja no telemóvel, tem-se o mesmo impacto em termos de diminuição de interação verbal. E gastámos muito tempo para a desenvolver.

O estudo refere que em média, as crianças com 2 anos passam quase três horas por dia em frente a um ecrã, cerca de cinco horas para crianças de 8 anos e mais de sete horas para adolescentes.

Isto significa que antes de completarem 18 anos, os jovens terão passado o equivalente a 16 anos em tempo integral em frente aos ecrãs.

Michel Desmurget ainda afirma que “quanto mais cedo as crianças forem expostas à tecnologia, maiores serão os impactos negativos e o risco de consumo excessivo subsequente”.

Porque não é só uma questão do tempo que estão à frente dos ecrãs, é do tempo livre que estão à frente dos ecrãs a ver televisão, a jogar e depois no Instagram, Tik Tok, etc.

Se uma criança de dez anos está meia hora por dia à frente do ecrã não é um problema. Se o sono estiver bem, se não houver outros problemas, tudo bem. Agora quando estamos a falar de cinco, seis horas, estamos a falar de não fazerem mais nada.

Vão à escola, precisam de dormir e o tempo é precioso, especialmente nas crianças. É uma pedra preciosa e estão a gastá-la em entretenimento que não constrói o cérebro e que, em muitos aspetos, torna mais difícil o seu desenvolvimento.

É por essa mesma razão que cabe aos pais estabelecer horários de uso da tecnologia e mostrar aos filhos que existe um caminho igualmente didático e desafiante longe dos ecrãs.

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