Muita coisa mudou de há alguns anos para cá: os avós que costumavam ficavam com os netos estão geralmente menos disponíveis, por vezes até a trabalhar, ou moram longe, e os pais trabalham cada vez mais.
O problema é que a necessidade e o prazer que as crianças tinham em estar em casa mantém-se. E talvez seja ainda maior, porque o ritmo dos dias é mais acelerado, também para eles, e o tempo de lazer é cada vez mais escasso.
Nas crianças até ao pré-escolar porque, até à data, as escolas para os mais crescidos cumprem as férias escolares, embora disponibilizem geralmente Atividades de Tempos Livres, e para estes, bem ou mal, os pais têm de arranjar solução.
Não adianta trocar uma agenda cheia por outra
Aproveitar bem as férias não quer dizer trocar a agenda cheia do período escolar por uma outra agenda cheia, que ocupa cada instante do dia – uma atitude que os adultos podem ser tentados a fazer para garantir que os filhos estejam entretidos e ocupados, permitindo que eles próprios possam dedicar-se aos seus afazeres.
Afinal, uma das funções das férias escolares é permitir que as crianças relaxem e possam explorar o mundo à sua volta sem tantos compromissos. É um momento de descontração, mas que pode render frutos relevantes.
Não é por as crianças serem mais pequenas e terem uma escola menos rigorosa que deixam de ter direito a férias. Ora vejamos: mesmo as crianças pequenas têm de se deitar a horas – o que exige uma correria à noite; têm de estar a horas na escola – o que exige outra correria de manhã; têm de obedecer a regras e rotinas variadas; passar bastante tempo sentadas e condicionadas por ritmos estabelecidos.
Nos dias de escola, a disponibilidade dos pais é menor, há muitas despedidas e reencontros, a comida geralmente não é tão boa como em casa e o mimo não é o mesmo.
Tudo isto faz parte de uma escola normal e é natural que assim seja. Mas tal como as férias do trabalho sabem pela vida aos pais, para os filhos também não há nada como sair da rotina escolar.
São dias diferentes, em que não há pressa, estão mais próximas da família, brincam com os familiares ou com os seus jogos, podem passear, ver televisão, pintar, dar asas à imaginação, explorar ou simplesmente descansar!
Se há pais para quem é totalmente impossível deixar os filhos em casa ou com algum familiar, há outros que se encostam bastante. Quem não conhece várias histórias de pais que estão em casa mas os filhos não tiram um dia de férias. E ainda de outros que vão de férias e deixam os filhos na escola.
Claro que os pais também precisam de férias dos filhos – e estas são muito saudáveis – mas há quem as tire por sistema, deixando sempre os mais pequenos para trás.
Há ainda pais que acham que quando os filhos estão de férias têm de estar igualmente ocupados e, para isso, inscrevem-nos em atividades radicais, intelectuais, criativas e desportivas que não lhes deixam um minuto para respirar.
Sei bem o que é ter uma filha a tempo inteiro em casa e vem-me por vezes à memória a imagem cómica do Homer Simpson a esganar o filho.
Mas também tenho bem presentes as férias em casa dos meus avós que, sem estarem atoladas de atividades, eram sem dúvida as melhores do mundo.