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Regresso às aulas.

O regresso às aulas: a grande data

A pouco e pouco vamos retomando o passo e a cada passo as crianças tentam acompanhar-nos.

Mas no caminho é preciso não perder de vista que os nossos filhos não estavam munidos da mesma resiliência que nós. Desconheciam um mundo de normas, restrições e medos… esse só existia nas histórias. O mundo solto e colorido que conheciam ganhou cores escuras e garridas e ficou bem sombrio e estreito. São precisas novas cores para pintar o seu mundo, entre elas as cores da atenção, da escuta, do carinho, e se dele for difícil lembrar os seus olhos irão recordar.

Os seus olhos imploram por pais que foram pais a tempo inteiro e ao mesmo tempo pais a tempo algum.

Ao desempenhar vários papéis no mesmo espaço perdemos a noção também de tempo, o tempo dito tempo, o tempo de qualidade.

Ao abrandar é possível perceber que o esgotámos e só agora toma espaço para ganhar forma novamente. Com tempo contemplamos o que ficou para trás e percebemos o que não mais teve lugar e grita por voltar. As crianças precisam de nós inteiros, presentes e atentos.

Neste regresso, podemos aprender com as suas histórias e ser o que nós quisermos. Podemos parar e sondar o que fica e o que tem de mudar. E se há coisa que urge em mudar é a nossa forma de amar. Tendemos a quantificar em detrimento de qualificar.

As notas e a sua excelência não definem as capacidades das crianças. Cada criança tem um mundo irrepetível de aptidões e interesses que se expressam de uma forma que não cabe nas disciplinas da escola. É preciso olhar com atenção para vislumbrar as suas inúmeras potencialidades. É esse mesmo mundo que as torna únicas e felizes. Mas o seu potencial termina onde a nossa exigência começa.

Este ano, podemos regressar de uma forma diferente. Podemos aprender com as nossas crianças, reaprendendo a escutar e a tolerar.

Podemos permitir-nos tolerar as nossas fragilidades e das nossas crianças e investir nas suas potencialidades.

Os interesses podem potenciar aprendizagens e as aprendizagens aguçar a curiosidade. Os ditados podem ser sobre os brinquedos favoritos e os textos criativos sobre a história predileta. Maravilhas acontecem quando se conjuga saber e criatividade.

Podemos torná-las aliadas no fomento da sede do saber. Tratar a matemática sem punhos armados e o português sem dentes aguçados. Investir no que de melhor as nossas crianças sabem faz emergir um mundo de possibilidades.

Mais do que tudo, as nossas crianças e jovens precisam de escuta, validação e suporte, precisam de amor. Se for esse o caminho escolhido, o trilho irá levá-las a bom porto.

E se, porventura, tropeçarem, poderão sempre regressar ao ponto de partida, o ponto de abrigo que as encorajou a velejar.

Diana Meira – Psicóloga Clínica

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